Universidades públicas afastadas do centro são um desperdício de recursos e oportunidade

Dr. Reinaldo de Mattos Corrêa*

As universidades públicas são importantes instituições de ensino, pesquisa e extensão, que contribuem para o desenvolvimento social, cultural e econômico do país. No entanto, muitas delas enfrentam problemas de infraestrutura, financiamento e gestão, que comprometem a sua qualidade e eficiência. Um desses problemas é a localização das universidades públicas longe do centro das cidades, que gera prejuízos à sociedade.

Um dos prejuízos é o aumento dos custos de transporte para os estudantes, professores e funcionários, que precisam se deslocar diariamente entre a universidade e o centro urbano. Apesar de os professores ganharem o “difícil acesso”, esse investimento pode ser aplicado de modo mais útil à sociedade em outro lugar. A distância física representa uma barreira de acesso para os estudantes de baixa renda, que dependem de bolsas ou auxílios para permanecer na universidade.

Em segundo lugar, o tempo gasto no trânsito reduz a produtividade e a qualidade de vida dos envolvidos, que aproveitariam melhor esse tempo para estudar, trabalhar ou se divertir. O estresse causado pelo trânsito pode afetar a saúde mental e física dos indivíduos, aumentando o risco de ansiedade, depressão, hipertensão, obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares.

Em terceiro lugar, o aumento da poluição do ar, da água e do solo pode afetar tanto a universidade quanto as áreas adjacentes. A poluição do ar é gerada principalmente pela emissão de gases de efeito estufa pelos veículos que transportam as pessoas entre a universidade e o centro, contribuindo para o aquecimento global e para a ocorrência de eventos climáticos extremos, como secas, enchentes, tempestades e incêndios. A poluição do ar também pode causar problemas respiratórios, alergias, asma, bronquite, câncer de pulmão e outras doenças. A poluição da água e do solo é gerada principalmente pelo descarte inadequado de resíduos sólidos e líquidos pela universidade e pelas comunidades vizinhas, contaminam-se os recursos hídricos e o solo, e favorece-se a proliferação de vetores de doenças, como mosquitos, ratos e baratas. A poluição da água e do solo pode causar doenças gastrointestinais, hepatite, leptospirose, dengue, zika, chikungunya e outras doenças.

Em quarto lugar, ocorre a diminuição da integração entre a universidade e a sociedade, que dificulta a realização de atividades de extensão, cultura e lazer. A universidade pública tem o papel de promover a democratização do conhecimento e a inclusão social, por meio de projetos que atendam às demandas e aos interesses da população. No entanto, quando a universidade está distante do centro, torna-se “elitista”, mais isolada e menos acessível à comunidade, que perde a oportunidade de usufruir dos benefícios que a universidade oferece.

Em quinto lugar, surge a redução da competitividade e da inovação, que prejudica o desenvolvimento econômico local e nacional. A universidade pública é fonte de geração e difusão de conhecimento científico e tecnológico, que pode estimular o aparecimento de novos negócios, produtos e serviços, que aumentem a renda e o emprego. No entanto, quando a universidade está afastada do centro, perde a conexão com o mercado e com os agentes econômicos, que poderiam se beneficiar da cooperação e da transferência de tecnologia.

Em sexto lugar, favorece-se a alienação da comunidade acadêmica que não vivencia a realidade social e os problemas urbanos, reduz o senso de responsabilidade e de compromisso com a transformação social.

Em sétimo lugar, constata-se a desvalorização do conhecimento produzido pela universidade, que não é divulgado nem aplicado às demandas e aos desafios da sociedade, desperdiçam-se recursos públicos e potenciais soluções.

O dinheiro que hoje é usado ao deslocamento da comunidade acadêmica até a universidade situada longe do centro da cidade fosse gasto no comércio local. Isso iria gerar mais renda ao comércio e o imposto disso poder beneficiar a população. O meu argumento se baseia em três pontos principais: a redução dos custos de transporte, o aumento do consumo de bens e serviços locais e a melhoria da qualidade de vida da comunidade.

Primeiro, a redução dos custos de transporte significa que a comunidade acadêmica teria mais dinheiro disponível para gastar em outras coisas. Isso estimularia a demanda por produtos e serviços oferecidos pelo comércio local, como alimentação, vestuário, lazer, cultura, educação, saúde, entre outros. Esses setores são importantes para o desenvolvimento econômico e social da cidade, pois geram emprego, renda e tributos.

Segundo, o aumento do consumo de bens e serviços locais favoreceria a circulação de dinheiro dentro da própria cidade, fortalecendo o comércio e a indústria locais. Isso criaria um ciclo virtuoso de crescimento, pois quanto mais o comércio vende, mais ele compra dos fornecedores locais, mais ele paga de impostos, mais ele investe em melhorias e inovações, mais ele atrai novos clientes e assim por diante.

Terceiro, a melhoria da qualidade de vida da comunidade seria uma consequência natural da redução dos custos de transporte e do aumento do consumo de bens e serviços locais. A comunidade acadêmica teria mais tempo livre, mais saúde, mais lazer, mais cultura, mais educação, mais segurança, mais bem-estar. Isso se refletiria em um maior desempenho acadêmico, uma maior satisfação pessoal e uma maior participação cidadã.

A localização das universidades públicas longe do centro das cidades é um problema que precisa ser enfrentado. Os prejuízos causados por essa localização são inúmeros e atingem a universidade, a sociedade e o ambiente.

Para superar esse desafio, é necessário que as universidades públicas, os governos e a sociedade civil trabalhem juntos para repensar a localização das universidades. Essa mudança deve ser feita de forma planejada e responsável, levando em consideração as necessidades de todos os envolvidos.

Aproximar as universidades do centro das cidades é uma medida que traria benefícios para todos. Ela reduziria os custos de transporte, melhoraria a qualidade de vida da comunidade acadêmica, facilitaria a integração entre a universidade e a sociedade, e estimularia o desenvolvimento econômico e social local.

É hora de agir para que as universidades públicas sejam mais inclusivas, eficientes e sustentáveis. Aproximar as universidades do centro das cidades é um passo importante nessa direção.

* É Produtor Rural em Mato Grosso do Sul.

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