Repensando a Agricultura: Agrotóxicos ou Sustentabilidade?
Reinaldo de Mattos Corrêa*
A questão dos agrotóxicos é complexa e multifacetada, estando profundamente enraizada no sistema capitalista que governa grande parte da agricultura moderna. Ao investigar essa relação, podemos levantar questionamentos que não só desafiam a presença dos agrotóxicos, mas também o próprio capitalismo que os sustenta.
Em primeiro lugar, precisamos entender por que os agrotóxicos se tornaram tão centrais na produção agrícola. No contexto capitalista, o objetivo primordial é o lucro máximo, com a eficiência e produtividade sendo vitais para alcançar esse objetivo. Os agrotóxicos, propaganda como soluções rápidas e eficazes contra pragas e doenças, permitem a maximização das colheitas e, consequentemente, dos lucros. Mas a que custo? Os danos ambientais, a saúde dos trabalhadores rurais e dos consumidores são frequentemente marginalizados nessas equações.
É imperativo questionar a ética de um sistema que prioriza o lucro sobre a saúde pública e a sustentabilidade ambiental. Como podemos justificar a toxicidade dispersa em nossos campos e alimentos, contaminando solo, água e ar? Este aspecto crítico levanta a questão: se o uso de agrotóxicos está enraizado nos princípios capitalistas de lucro e eficiência, seria possível uma agricultura verdadeiramente sustentável sob esse mesmo sistema?
Além disso, a dependência dos agricultores de agrotóxicos usualmente os coloca em uma posição de vulnerabilidade frente às grandes corporações químicas. Estas empresas possuem um controle significativo sobre o mercado de insumos agrícolas, promovendo uma agricultura dependente de seus produtos. Será que é ético um sistema em que os agricultores são aprisionados economicamente por essas corporações? Onde está a justiça quando pequenos agricultores não conseguem competir ou sobreviver sem recorrer a soluções químicas?
Devemos também considerar a desagregação dos saberes tradicionais e métodos agrícolas sustentáveis. O uso intensivo de agrotóxicos frequentemente substitui práticas agrícolas tradicionais que promovem a biodiversidade e a saúde do solo. Assim, outro questionamento inevitável surge: como podemos equilibrar o progresso técnico com a preservação e valorização do conhecimento tradicional?
Dada a encruzilhada em que nos encontramos, um caminho a seguir é uma avaliação crítica e ética do sistema capitalista dominante na agricultura. Devemos perguntar: a verdadeira inovação no campo agrícola se dá apenas por meio da química ou deve considerar-se holística, englobando práticas agroecológicas, permacultura e uma maior harmonia com a natureza? Poderá um sistema redefinido, que não coloca o lucro acima de tudo, priorizar uma produção alimentar que seja benéfica para todos os seres?
A eliminação dos agrotóxicos é um desafio monumental que exige uma reavaliação profunda não apenas das práticas agrícolas atuais, mas de todas as estruturas econômicas e sociais que as sustentam. Essa transição provavelmente demandará um modelo econômico diferente, que preze pela saúde pública, justiça social e sustentabilidade ambiental ao invés de um lucro desenfreado.
Se respondermos a essas questões com compromisso e ação genuínos, pavimentamos o caminho para um futuro onde a agricultura não seja sinônimo de degradação e risco à saúde, mas sim de equilíbrio, respeito ao meio ambiente e justiça social. É uma jornada ambiciosa, mas necessária, para a sobrevivência sustentável de nossa espécie e do planeta.
* Produtor Rural em Mato Grosso do Sul.