## Escolas Cívico-Militares: Ameaça à Família e Retrocesso para a Educação

Reinaldo de Mattos Corrêa*

A recente decisão de implantar escolas cívico-militares em Dourados, Mato Grosso do Sul, desperta grande preocupação entre pais, educadores e a sociedade em geral. Sob a promessa de promover disciplina e valores cívicos, esse modelo educacional militarizado traz consigo uma série de consequências negativas que podem comprometer o desenvolvimento integral das crianças e adolescentes, além de minar os valores familiares e a própria essência da educação.

Família: Primeiro Núcleo Educacional

A família é o alicerce da formação de cada indivíduo. É no seio familiar que os primeiros valores, princípios e noções de mundo são construídos. A escola, por sua vez, tem o papel fundamental de complementar essa formação, oferecendo um ambiente de aprendizado seguro, estimulante e que respeite a diversidade de cada estudante.

Perigos da Militarização da Educação

Ao impor uma disciplina rígida e um currículo militarizado, as escolas cívico-militares tendem a homogeneizar os estudantes, suprimindo as individualidades e as criatividades. Essa abordagem, além de violar os direitos humanos das crianças e adolescentes, pode gerar uma série de consequências negativas, como:

Distanciamento entre pais e filhos: a rígida hierarquia e a falta de diálogo podem criar um abismo entre pais e filhos, dificultando a construção da relação de confiança e afeto;

Perda da autonomia: as famílias perdem o direito de escolher o tipo de educação que desejam para os filhos, sendo submetidas a um modelo pedagógico imposto pelo Estado;

Sobrecarga emocional: a preocupação com o bem-estar emocional dos filhos, submetidos a um ambiente escolar militarizado, pode gerar um grande estresse para os pais.

Impactos na Educação e na Sociedade

Além de prejudicar as famílias, a militarização da educação traz sérios prejuízos para a sociedade como um todo:

Sufocamento da criatividade e do pensamento crítico: a ênfase na obediência e na memorização impede o desenvolvimento de habilidades essenciais para a vida em sociedade, como a capacidade de resolver problemas, de pensar de forma crítica e de inovar;

Perpetuação de desigualdades: as escolas cívico-militares tendem a reproduzir as desigualdades sociais existentes, ao priorizar a ordem e a disciplina em detrimento da inclusão e da diversidade;

Militarização da sociedade: a crescente influência das forças armadas na educação pode levar à militarização da sociedade e à subordinação dos interesses civis aos militares;

Fragilização da democracia: a formação de cidadãos críticos e conscientes de seus direitos e deveres é fundamental para a consolidação da democracia. O modelo militarizado, ao incentivar a obediência e a passividade, fragiliza os pilares da democracia.

Importância da Educação Pública de Qualidade

Em contrapartida, a educação pública de qualidade, quando bem implementada, oferece inúmeros benefícios para os estudantes e para a sociedade como um todo:

Desenvolvimento integral: uma escola pública de qualidade promove o desenvolvimento integral dos estudantes, estimulando não apenas o aprendizado cognitivo, mas também o desenvolvimento social, emocional e cultural;

Inclusão e diversidade: a escola pública deve ser um espaço de acolhimento e respeito às diferenças, promovendo a inclusão de todos os estudantes, independentemente das origens sociais, culturais ou religiosas;

Formação de cidadãos críticos: a escola pública tem o papel fundamental de formar cidadãos críticos, conscientes dos direitos e deveres, capazes de participar ativamente da vida social e política.

O que fazer?

Para garantir uma educação de qualidade para todos, é fundamental que a sociedade se mobilize em defesa da escola pública e contra a militarização da educação. Algumas ações podem ser:

Participar das decisões: as famílias devem participar ativamente das decisões sobre a educação dos filhos, exigindo que as escolas sejam espaços democráticos e inclusivos;

Apoiar iniciativas de melhoria da educação pública: é preciso fortalecer as escolas públicas, investindo em infraestrutura, materiais didáticos, formação de professores e valorização da carreira docente;

Mobilizar a comunidade: é fundamental unir forças com outros pais, professores, estudantes e membros da comunidade para pressionar os governantes e exigir políticas públicas que priorizem a educação de qualidade.

Conclusão

As escolas cívico-militares representam um retrocesso à educação e à sociedade como um todo. Ao invés de investir em modelos que restringem a liberdade e a autonomia dos estudantes, é preciso fortalecer a escola pública, oferecendo o ensino de qualidade que promova o desenvolvimento integral e prepare os jovens para os desafios do futuro. A educação é o alicerce da sociedade mais justa, democrática e desenvolvida.

Palavras-chave: escolas cívico-militares, educação, família, direitos humanos, democracia, militarização, criatividade, pensamento crítico, inclusão.


* Produtor Rural em Mato Grosso do Sul.

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