Escolas Cívico-Militares: Obstáculo à Roda da Fortuna
Reinaldo de Mattos Corrêa*
A acumulação de capital, motor impulsionador do Capitalismo, depende do ambiente propício à inovação, à criatividade e à tomada de riscos. As escolas cívico-militares, com a rígida hierarquia e ênfase na obediência, parecem à primeira vista ser como algo ultrapassado nesse contexto. Mas a incompatibilidade entre esses dois modelos vai além do óbvio.
Inovação como Vítima da Disciplina
O coração do Capitalismo é a inovação. Novas ideias, produtos e processos são a força motriz por trás do crescimento econômico. A acumulação de capital está intrinsecamente ligada à capacidade da empresa de se adaptar ao mercado em constante mudança. Mas como fomentar a inovação no ambiente que valoriza a conformidade e a obediência? A resposta é simples: é praticamente impossível.
As escolas cívico-militares, com a rígida estrutura e ênfase na ordem, tendem a sufocar a criatividade e o pensamento crítico, habilidades essenciais para a inovação. Ao invés de incentivar a curiosidade e a vontade de questionar o status quo, essas escolas moldam indivíduos para seguirem ordens e executarem tarefas.
Custo Humano da Obediência
A acumulação de capital não é apenas sobre números e lucros. É sobre pessoas. São as pessoas que criam as empresas, desenvolvem os produtos e tomam as decisões que impulsionam a economia. Mas como esperar que pessoas criativas e inovadoras emerjam de um sistema que valoriza a obediência acima de tudo?
A longo prazo, a militarização da educação pode resultar na força de trabalho menos qualificada e menos adaptada às demandas do mercado. Empresas inovadoras precisam de funcionários que sejam capazes de pensar de forma independente, de resolver problemas complexos e de trabalhar em equipe. A rígida disciplina das escolas cívico-militares pode criar uma geração de trabalhadores que não possuem essas habilidades.
Risco Sistêmico
A acumulação de capital é o processo dinâmico que depende de um ambiente de negócios saudável. Esse ambiente requer não apenas inovação, mas também consumidores com poder aquisitivo e um sistema financeiro estável. Mas como garantir a estabilidade econômica na sociedade que forma cidadãos conformistas e passivos?
A falta de pensamento crítico e de engajamento cívico pode levar a uma sociedade mais suscetível a crises e a manipulações. Consumidores passivos são mais fáceis de manipular, e uma força de trabalho pouco qualificada é menos capaz de exigir melhores condições de trabalho e salários mais justos.
Em resumo, a militarização da educação representa um risco sistêmico para o Capitalismo. Ao sufocar a inovação, limitar a criatividade e gerar uma força de trabalho menos qualificada, as escolas cívico-militares minam os próprios fundamentos do sistema econômico que se pretende defender.
A pergunta que fica é: por que estamos tentando resolver os problemas da educação com soluções que, historicamente, têm sido associadas à repressão e ao autoritarismo? A educação deve ser o investimento no futuro, e não um obstáculo ao progresso.
* Produtor Rural em Mato Grosso do Sul.