Questão Delicada: Saúde Mental e Escolas Cívico-Militares
Reinaldo de Mattos Corrêa*
A seguinte análise tem como objetivo fomentar a discussão crítica e reflexiva sobre um tema complexo e sensível. É importante ressaltar que generalizações sobre grupos específicos são perigosas e podem estigmatizar indivíduos. A intenção aqui é explorar possíveis motivações psicológicas subjacentes a uma determinada postura, sem realizar julgamentos sobre a saúde mental de indivíduos em particular.
A proposta de implementação de escolas cívico-militares no Brasil tem gerado debates acalorados e levantado importantes questionamentos sobre os impactos desse modelo na educação e na sociedade como um todo. Além das discussões sobre os aspectos pedagógicos, políticos e sociais dessa iniciativa, é pertinente, do ponto de vista da saúde mental, indagar sobre os possíveis motivadores psicológicos por trás da defesa desse modelo.
Quais seriam os possíveis mecanismos psicológicos que poderiam levar alguém a defender um sistema educacional tão rígido e hierarquizado como o militar? Vejamos:
- Necessidade de controle e ordem: indivíduos com a forte necessidade de controle e ordem podem ver nas escolas cívico-militares a forma de estabelecer a estrutura rígida e hierarquizada, na qual as regras são claras e os desvios são severamente punidos. Essa busca do ambiente altamente controlado pode estar relacionada a ansiedades profundas em relação à incerteza e à desordem;
- Idealização da autoridade: a figura do militar, associada à disciplina, à hierarquia e à força, pode ser idealizada por algumas pessoas como a solução para os problemas da educação. Essa idealização pode estar relacionada com a visão romantizada da autoridade, na qual o líder é visto como a figura onisciente e infalível, capaz de resolver todos os problemas;
- Medo do diferente: a defesa do modelo educacional homogêneo e padronizado, como o militar, pode estar relacionada ao medo do diferente e da diversidade. A busca pela uniformização dos comportamentos e das ideias pode ser a forma de lidar com a ansiedade gerada pela complexidade e pela ambiguidade do mundo;
- Projeção de frustrações: pessoas que não tiveram a experiência escolar positiva podem projetar as frustrações e os ressentimentos no sistema educacional atual, buscando a alternativa que, conforme acreditam, seria mais eficaz e disciplinadora;
- Pensamento autoritário: a defesa do modelo educacional autoritário pode estar relacionada com a visão de mundo autoritária, na qual a liberdade individual é vista como uma ameaça à ordem social.
Implicações psicológicas para os estudantes
É importante ressaltar que a imposição do modelo educacional militar pode ter sérias consequências para a saúde mental dos estudantes. A rígida hierarquia, a valorização da obediência e a punição por desvios podem gerar:
- Ansiedade e depressão: a constante pressão por desempenho e a falta de espaço para a expressão de sentimentos e emoções podem levar ao desenvolvimento de quadros de ansiedade e depressão;
- Baixa autoestima: a comparação constante com os outros e a busca pela perfeição podem minar a autoestima dos estudantes;
- Dificuldades de relacionamento: a dificuldade em expressar as próprias opiniões e em estabelecer relações interpessoais autênticas pode levar a problemas de relacionamento no futuro;
- Pensamento crítico: a valorização da obediência e da conformidade pode inibir o desenvolvimento do pensamento crítico e da autonomia.
Importância do debate
É fundamental que a sociedade como um todo reflita sobre as implicações da implementação de escolas cívico-militares. É preciso questionar os pressupostos que sustentam esse modelo e analisar seus possíveis impactos na formação de cidadãos críticos, autônomos e solidários.
Conclusão
A defesa do modelo educacional cívico-militar militar pode estar relacionada a uma série de fatores psicológicos complexos. É importante que a sociedade como um todo esteja atenta aos riscos e às consequências desse tipo de iniciativa, buscando alternativas que promovam a educação de qualidade, inclusiva e democrática.
É preciso lembrar que a educação é um direito de todos e que a escola deve ser o espaço de aprendizado, de desenvolvimento individual e de construção da sociedade mais justa e igualitária.
* Produtor Rural em Mato Grosso do Sul.