Dia do Filósofo (por Tácito Loureiro)
Hoje, é comemorado no Brasil o Dia do Filósofo. Aliás, apenas existe a data comemorativa. Porque a sociedade brasileira está ainda muito distante do dia no qual os brasileiros que se aproximam da "vida filosófica" sejam identificados e valorizados.
O motivo principal pelo qual o povo brasileiro está muito aquém de desenvolver a dita "consciência filosófica" reside no fato de que no geral, salvo raríssimas exceções, as famílias primeiro apresentam a religião às crianças e, raramente, depois a Filosofia. Logo, o dogma religioso é idolatrado em prejuízo da liberdade de pensamento e de expressão.
Os prejuízos de o povo brasileiro ser excessivamente religioso e sobreviver longe do "mundo filosófico" são imensos. A maioria social, por exemplo, passa pela existência de forma um tanto inconsciente de si mesma e do mundo no qual vive. São pessoas brasileiras acostumadas a confundir a verdade com a mentira, facilmente manipuladas, desequilibradas emocionalmente, ignorantes dos próprios potenciais, incapazes de relacionar saberes, de lidar com a complexidade e de explicarem com profundidade um tema.
As universidades brasileiras podem dar uma grande contribuição para reverter esse triste quadro social. Abrirem mais cursos em nível de graduação e de pós-graduação em Filosofia, por exemplo. Apresentarem aos acadêmicos as grandes obras escritas por brasileiros como as principais e as de autores de outros países como as secundárias. Assumirem o "protagonismo intelectual" dos corpos discente, docente, técnico-administrativo, como algo que precisa cotidianamente ser valorizado, estimulado e incentivado, em vez da memorização dos conteúdos elaborados por gente de outras localidades. Como regra, o povo brasileiro aprender a elaborar os conceitos com os quais pensa e não assumir os conceitos alheios e estrangeiros como se fossem os próprios.
Se a Filosofia, enquanto busca incansável pela verdade e pelo conhecimento, continua essencial à libertação humana, por que, então, a nossa sociedade nacional, marcada por profundas desigualdades socioeconômicas e injustiças estruturais, parece tão resistente a cultivar esse tipo de pensamento?