Engenharia Civil e Escolas Cívico-Militares: Confronto de Paradigmas
Reinaldo de Mattos Corrêa*
A Engenharia Civil, por excelência, é a expressão tangível do pensamento crítico e da aplicação prática do conhecimento científico em prol do desenvolvimento sustentável. A formação do Engenheiro Civil exige uma mente inquieta, capaz de solucionar problemas complexos e de propor soluções inovadoras que respeitem o meio ambiente e a sociedade. No entanto, a proposta de implantação de escolas cívico-militares em Dourados, com sua ênfase na disciplina e na hierarquia, entra em choque frontal com os princípios fundamentais da Engenharia Civil.
A rigidez e o autoritarismo inerentes ao modelo militar contrastam com a flexibilidade e a criatividade necessárias para a resolução de problemas complexos na área da engenharia. A formação do Engenheiro Civil não se resume à execução de ordens, mas à capacidade de questionar o status quo, de propor novas soluções e de trabalhar em equipe. A inovação, a colaboração e a capacidade de adaptação são pilares da Engenharia Civil, atributos que podem ser comprometidos em um ambiente educacional militarizado.
Dourados, como muitas cidades brasileiras, enfrenta desafios como a urbanização desordenada, a falta de infraestrutura e a desigualdade social. A Engenharia Civil tem um papel crucial na busca por soluções para esses problemas. A formação de Engenheiros Civis deve, portanto, preparar profissionais capazes de pensar de forma sistêmica, de considerar os impactos sociais e ambientais de seus projetos e de trabalhar em conjunto com a comunidade.
A proposta de implementar escolas cívico-militares em Dourados representa o retrocesso nesse sentido, pois pode limitar a capacidade dos futuros Engenheiros de pensar de forma crítica e de propor soluções inovadoras para os desafios da cidade. A ênfase na disciplina e na obediência pode sufocar a criatividade e a autonomia, tão essenciais à prática da Engenharia Civil.
Além disso, a Engenharia Civil exige uma forte componente social. Os Engenheiros precisam ser capazes de comunicar as ideias de forma clara e concisa, de trabalhar em equipe e de construir consensos. A abordagem militar, com a ênfase na hierarquia e na autoridade, pode dificultar o desenvolvimento dessas habilidades.
Em suma, a proposta de implementar escolas cívico-militares em Dourados é incompatível com os princípios da Engenharia Civil. A formação de Engenheiros deve ser um processo contínuo de aprendizado, de questionamento e de desenvolvimento de habilidades que permitam aos profissionais atuar de forma ética e responsável na construção do futuro mais sustentável para toda a sociedade.
*Produtor Rural em Mato Grosso do Sul.