Maguila, lenda do boxe brasileiro, morre aos 66 anos

Adilson Maguila Rodriguess conquistou títulos brasileiros, sul-americanos e o Mundial da WBF -

O Brasil se despede de um dos maiores boxeadores de sua história. Nesta quinta-feira, dia 24, morreu o ex-boxeador José Adilson Rodrigues dos Santos aos 66 anos de idade, conhecido mundialmente como Maguila. A informação foi confirmada pela ex-esposa do atleta - Irani Pinheiro.

Por telefone, a esposa do ex-atleta brasileiro revelou a partida de Maguila. Muito emocionada, Irani relembrou o boxeador, que enfrentou e ganhou de Evander Holyfield e George Foreman, na década de

Por telefone, a esposa do ex-atleta brasileiro revelou a partida de Maguila. Muito emocionada, Irani relembrou o boxeador, que enfrentou e ganhou de Evander Holyfield e George Foreman, na década de 1990.

"Ele ficou 28 dias internado, e a gente procurou não falar com a imprensa, porque eu procurei cuidar da minha família. É o momento de cada um. O Maguila estava há 18 anos com encefalopatia traumática crônica... Há 30 dias, foi descoberto um nódulo no pulmão, ele sentiu muitas dores no abdômen, tiraram dois litros de água do pulmão, não conseguimos fazer a biópsia', relatou Irani.

O ex-lutador marcou a história do esporte ao conquistar o campeonato mundial de boxe. Maguila sofria de demência pugilistica, doença comum aos boxeadores, que faz com que eles fiquem com sequelas após os 60 anos de idade, também conhecida como ETC, encefalopatia traumática crônica. Nos últimos tempos, o ex-atleta estava internado em uma casa de repouso.

Maguila, pugilista — Foto: Fernando Tucori

O principal peso-pesado e uma das direitas mais pesadas do boxe brasileiro teve a demência pugilística diagnosticada em 2013.

Maguila nasceu no dia 11 de julho de 1958, em Aracaju. Dos 17 anos em que lutou, acumulou um cartel de 85 lutas, 77 vitórias (61 por nocaute), sete derrotas e um empate técnico. Com seu jeito carismático e suas entrevistas folclóricas, foi cativando o público. Entre as lutas mais especiais da carreira, estão os confrontos com nomes como Evander Holyfield e George Foreman.

O interesse pelo boxe começou ainda em Aracaju, ao assistir às lutas de Éder Jofre e, em especial, de Muhammad Ali. Em uma casa repleta de irmãos, Maguila assistia às lutas do ídolo em uma TV preto e branco na casa de um vizinho. Anos depois, se tornou campeão peso-pesado, mesma categoria de Ali.

- Eu me interessei por boxe porque eu sempre fui fã do Muhammad Ali, do Cassius Clay. Sempre fui fã dele e disse: vou lutar boxe. Gostava demais dele. Quando eu comecei a assistir, nem televisão tinha em casa - disse ao ge em 2015

Mas o início no pugilismo só viria mais tarde. Logo aos 14 anos, o então jovem Adilson foi para São Paulo para ser ajudante de pedreiro. A vida na capital paulista trouxe muitas dificuldades, inclusive a fome.

- Fiquei amarelo, pálido. Foram três meses (comendo) pão com banana. Minha morada era um caminhão abandonado no Butantã, desses que carregam entulho. Quando o dono descobriu que eu dormia lá, tirou o caminhão, e eu fiquei (dormindo) no poste - disse o lutador em 1987, ao documentário "Maguila", de Galileu Garcia, lançado em 1987.

Profissão: pugilista

Começou a treinar em 1979, e a primeira luta veio dois anos depois, em 1981. Foi na “Forja de Campeões”, maior evento de boxe do Brasil, que acontece desde 1941, sob o comando do técnico Ralph Zumbano, tio de um de seus ídolos, Éder Jofre.


O primeiro título brasileiro veio em 1983, ao vencer Waldemar Paulino, no icônico ginásio do Ibirapuera, em São Paulo. Maguila se manteve no topo da categoria no Brasil e dono do título até 1995.

Maguila foi campeão sul-americano pela primeira vez em 1984, ao nocautear o argentino Juan Antonio Figueroa ainda no primeiro round, também no Ibirapuera. Ele manteve o título por 10 anos.

Em 1985, no ginásio do Parque São Jorge, em São Paulo, Maguila perdeu sua invencibilidade. O sergipano foi nocauteado pelo argentino Daniel Falconi. O brasileiro, no entanto, conseguiu dar o troco. No ano seguinte, no mesmo palco, ele não somente teve sua revanche, como também deu um fim à carreira do rival.

- Aquela luta terminou a minha carreira, porque deslocou a retina do olho direito. Para o Maguila foi um trampolim para decolar na carreira. Salvaram meu olho depois de duas cirurgias. Era muito perigoso continuar minha carreira nessa situação. Tive que decidir e parei - contou Falconi ao GE em 2019.

Maguila também conquistou o cinturão das Américas pelo Conselho Mudnial de Boxe (WBC), em 1986, e da América Latina pela Associação Mundial de Boxe (WBA) e pela Federação Internacional de Boxe (IBF), ambos em 1996.

Apesar de não ter conquistado o título por uma das quatro principais organizações mundiais de boxe, Maguila foi o primeiro brasileiro campeão mundial dos pesos-pesados. Em 1995, ele venceu Johnny Nelson, em Osasco, e conquistou o cinturão da Federação Mundial de Boxe (WBF), uma entidade considerada de segunda prateleira.

Maguila pendurou as luvas em 2000 e foi nocauteado por Daniel Frank em seu adeus aos ringues, no dia 29 de fevereiro daquele ano.

Holyfield e Foreman - as maiores lutas da carreira

Maguila enfrentou Evander Holyfield, em Nevada, nos Estados Unidoss — Foto: Arquivo/Agência Estado

No dia 15 de julho de 1989, o Brasil parou para assistir ao duelo de Maguila com Evander Holyfield. O brasileiro vinha de uma sequência de 18 vitórias, incluindo o marcante triunfo por pontos sobre James "Quebra-Ossos" Smith, em 1987, e vivia o melhor momento de sua carreira. No primeiro round, o sergipano até levou a melhor, mas a alegria durou pouco. No assalto seguinte, o norte-americano conquistou uma vitória contundente com um nocaute fulminante.

- A luta contra Maguila foi importante para mim. Ele era número um e meu objetivo era ser o número um e forçar a luta contra Tyson. Eu treinei para isto. Nós lutamos, eu o nocauteei, e as pessoas sentiram que eu tinha força, assim como Tyson,   disse Holyfield,  em 2015.

Em 16 de junho de 1990, Maguila enfrentava novamente um grande nome do boxe mundial, um ano após ser derrotado pelo então campeão mundial Evander Holyfield. Aos 32 anos, em Las Vegas, Maguila subia ao ringue para enfrentar George Foreman na preliminar da luta entre Mike Tyson e Henry Tillman.


Na época, Maguila ostentava um cartel importante nos pesos-pesados, com 36 vitórias e o 10º lugar no ranking da Associação Mundial de Boxe (WBA). Do outro lado do ringue, Foreman, com 41 anos, lutava para poder disputar novamente o cinturão da categoria. 


A expectativa de Maguila e do povo brasileiro acabou no segundo round, quando George Foreman nocauteou o brasileiro. Em depoimento ao ge, em 2020, 

"Falar sobre o Foreman é pensar em cair de novo. Só em falar dele dá vontade de cair", brincou Maguila ao relembrar a luta.

– O "véio" era uma parada dura. O que eu vou contar são as quedas que levei, batia no "veio" e ele nem se mexia. Ali foi problema, estou vivo e tranquilo. Se ficasse em pé ele me matava – disse Maguila. 

Fora dos ringues

Em 2009, lançou o álbum "Vida de Campeão", com a música que dá nome ao disco, de sua autoria, e a gravação de sambas consagrados. Também realizou alguns trabalhos na TV, inclusive como comentarista de economia.


Fã de samba, Maguila foi homenageado ao virar enredo da  escola de samba "Me Chama Que Eu Vou", no desfile virtual de 2021. A canção "Para que nunca se esqueça, um abraço, Maguila", é de autoria do compositor Thiago de Souza


Um longa metragem sobre a vida de Maguila, que seria interpretado por Babu Santana, chegou a ser divulgado em 2015. O ator iniciou o processo de treinamentos para viver o pugilista nas telonas, mas as gravações foram ssusspensas por falta de patrocínio. 


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