### Natal da Plenitude: Chamado Divino à Substituição do Trabalho pelo Lazer (por Tácito Loureiro)
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24/12/2024 08H13
É véspera de Natal. O mundo inteiro, de algum modo, se veste de luz. As casas brilham com enfeites, as mesas se enchem de partilhas, e os corações, mesmo que por um instante, se abrem ao mistério da paz e do amor. Mas será que compreendemos, de fato, a mensagem profunda que este dia nos traz? Será que ouvimos o chamado silencioso que ecoa na manjedoura de Belém?
Amanhã, 25 de dezembro de 2024, celebraremos o nascimento de Cristo, aquele que veio ao mundo para nos libertar das correntes que nos prendem. E não é o trabalho, muitas vezes penoso e alienante, uma dessas correntes? O Natal, com sua promessa de renovação, nos convida a repensar nossa relação com o tempo, com a vida e com o propósito de nossa existência. Ele nos chama a substituir gradativamente o trabalho pela plenitude do lazer, a abandonar o peso da labuta incessante para abraçar a leveza da contemplação, da criação e do encontro.
### Nascimento de Cristo: Convite à Redenção do Tempo
Quando Jesus nasceu, não foi no palácio de um rei ou nos salões de um império. Foi na simplicidade de uma manjedoura, cercado por pastores e animais, sob o brilho de uma estrela que guiava os corações atentos. Essa cena não é apenas um momento histórico; ela é uma metáfora viva. A manjedoura nos lembra que a verdadeira riqueza não está no que acumulamos, mas no que vivemos. O brilho da estrela nos aponta para o alto, para o transcendente, para aquilo que nos faz mais humanos.
E o que nos torna mais humanos? Não é o trabalho escravizante, que nos reduz a engrenagens de um sistema impessoal. Não é a produtividade que consome nossas forças e nossos dias. O que nos torna humanos é o lazer: o tempo livre para contemplar a criação, para nos conectar com o outro, para explorar os dons que Deus nos deu. O nascimento de Cristo é, portanto, um convite à redenção do tempo — uma libertação do "fazer" incessante para o "ser" pleno.
### Trabalho como Exílio, Lazer como Retorno ao Paraíso
Desde o Gênesis, o trabalho é descrito como uma consequência da queda. "Com o suor do teu rosto comerás o teu pão" (Gn 3:19), diz o Senhor a Adão. O trabalho, em sua essência, é um exílio do paraíso, uma condição imposta pela desconexão com Deus e com a harmonia original. Mas o Natal, ao celebrar a encarnação de Cristo, inaugura uma nova possibilidade: o retorno ao paraíso, onde não há mais o peso do fardo, mas a leveza da graça.
O lazer, nessa perspectiva, não é apenas um descanso do trabalho. Ele é a própria reintegração da humanidade ao divino. É no lazer que encontramos tempo para contemplar a criação, para criar arte, para fortalecer laços de amor e amizade. É no lazer que nos aproximamos de Deus, não como servos que trabalham, mas como filhos que vivem. O lazer é o retorno ao Éden, o resgate da nossa verdadeira vocação.
### Imagem do Natal: Lazer como Luz na Escuridão
Imagine a cena do Natal. Veja com os olhos da alma: a luz da estrela iluminando a noite escura, os anjos cantando em harmonia, os pastores deixando os campos para adorar o Menino. Tudo nessa imagem aponta para o lazer. Não há pressa, não há afazeres, não há tarefas. Há apenas a contemplação, o silêncio reverente, o encontro com o sagrado. O Natal nos ensina, em sua simplicidade, que a plenitude da vida não está no que fazemos, mas no que vivemos.
E, no entanto, hoje vivemos em um mundo que inverte essa lógica. O trabalho nos consome, nos rouba o tempo, nos afasta uns dos outros. Corremos de um compromisso a outro, como se nossa existência dependesse de cumprir metas e prazos. Mas o Natal nos chama a parar, a descansar, a olhar para a estrela que brilha no céu e nos guia para algo maior. O Natal nos convida a substituir a escuridão do trabalho incessante pela luz do lazer pleno.
### Paradoxo do Natal: Trabalho do Homem e Graça de Deus
Há um paradoxo no Natal que nos desafia a refletir: enquanto o homem trabalha incessantemente para se sustentar, Deus, em sua graça, nos oferece tudo de graça. O pão de Belém, a luz da estrela, a mensagem de paz — tudo isso nos é dado sem custo, sem mérito, sem esforço. O Natal nos lembra que a vida é um presente, não um pagamento. E, se a vida é um presente, por que insistimos em vivê-la como uma dívida a ser paga?
Substituir o trabalho pelo lazer é, portanto, um ato de fé. É confiar que Deus cuida de nós, que a providência divina é maior do que qualquer esforço humano. É reconhecer que fomos criados para a alegria, e não para o fardo; para a comunhão, e não para a competição. O lazer não é preguiça, mas gratidão. Não é fuga, mas retorno. Não é vazio, mas plenitude.
### Lazer como Reflexo do Reino de Deus
Jesus frequentemente comparava o Reino de Deus a festas, banquetes e celebrações. Ele falava de mesas fartas, de convidados reunidos, de alegria compartilhada. O Reino de Deus não é um lugar de trabalho, mas de descanso, de lazer, de comunhão. Substituir o trabalho pelo lazer é, portanto, uma antecipação do Reino, um ensaio para a eternidade.
Quando nos dedicamos ao lazer, estamos vivendo como Deus nos criou para viver. Estamos respirando o ritmo da graça, e não o da pressa. Estamos nos aproximando do outro, e não competindo com ele. Estamos dizendo, com nossa vida, que há algo mais importante do que produzir: amar, contemplar, ser.
### Chamado do Natal: Novo Tempo para a Humanidade
Neste Natal de 2024, somos chamados a refletir sobre o tempo. O tempo que gastamos, o tempo que desperdiçamos, o tempo que dedicamos ao que realmente importa. Somos chamados a substituir, gradativamente, o trabalho que nos consome pelo lazer que nos liberta. Somos chamados a viver como os pastores de Belém, que deixaram seus campos para contemplar o Menino, como os magos que seguiram a estrela, como Maria, que guardava tudo no coração.
O Natal não é apenas uma celebração. É um chamado. É a luz que nos guia para uma nova forma de viver. É o convite para abandonar o peso do trabalho e abraçar a leveza do lazer. É a promessa de que, em Cristo, somos libertos para viver plenamente. E essa promessa começa agora, neste dia, nesta noite, sob a luz da estrela que nunca se apaga.
O trabalho é a noite, mas o lazer é o dia. O trabalho é a cruz, mas o lazer é a ressurreição. O trabalho é o exílio, mas o lazer é o retorno ao paraíso. Neste Natal, que possamos ouvir o chamado do Menino de Belém: "Vinde a mim, vós que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos darei descanso" (Mt 11:28). Que possamos, enfim, descansar.
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