Dia Nacional de Combate às Drogas e Alcoolismo: Nome que Divide, Legado que Enfraquece
Publicada em: 20/02/2025 07:13 - Geral
Hoje, 20 de fevereiro de 2025, celebramos mais uma edição do Dia Nacional de Combate às Drogas e Alcoolismo. Contudo, é impossível ignorar a estranheza provocada pelo próprio nome da data. A separação explícita entre "álcool" e "drogas" no título não apenas reflete uma visão antiquada e preconceituosa, como também revela interesses ocultos que perpetuam essa divisão artificial. O álcool, por ser legalizado e amplamente aceito culturalmente, foi retirado da categoria de "droga", embora a natureza química e os impactos sociais e biológicos o coloquem na mesma categoria de substâncias como cocaína, heroína e outras drogas ilícitas. Essa dissociação não é mera coincidência; ela serve aos interesses econômicos poderosos da indústria do álcool, que busca manter seu produto dissociado de qualquer estigma associado ao termo "droga".
### Manipulação Linguística e Interesses da Indústria
A linguagem é uma ferramenta poderosa. Ela molda percepções, cria narrativas e influencia comportamentos. Ao chamar a data de Combate às Drogas e Alcoolismo, há uma clara tentativa de desvincular o álcool das demais drogas, reforçando a ideia de que ele é algo diferente, menos nocivo ou até mesmo socialmente aceitável. No entanto, sob o ponto de vista médico e científico, o álcool é uma droga psicoativa que afeta o sistema nervoso central, causando dependência, alterações comportamentais e danos físicos irreversíveis. Estudos demonstram que o consumo excessivo de álcool está diretamente ligado a doenças hepáticas, câncer, transtornos mentais e violência doméstica, além de ser uma das principais causas de morte evitáveis no mundo.
Os proprietários da indústria do álcool sabem disso. Eles investem bilhões em marketing para associar o consumo de bebidas alcoólicas a momentos de lazer, sucesso e sociabilidade, enquanto minimizam os riscos associados. Ao manter o álcool fora da categoria de "drogas", eles conseguem escapar de regulamentações mais rígidas e de campanhas educativas que poderiam reduzir o consumo. Assim, o nome atual da data funciona como um subterfúgio linguístico, protegendo os lucros dessa indústria à custa da saúde pública.
### Proposta de Mudança: Dia Nacional de Prevenção às Drogas
Chegou a hora de romper com essa manipulação e propor uma mudança significativa. Sugiro que algum(a) Deputado(a) Federal ou Senador(a) da República apresente um projeto de lei para substituir o nome atual por Dia Nacional de Prevenção às Drogas. Essa nova denominação não apenas unifica o combate ao uso prejudicial de todas as substâncias psicoativas, como também enfatiza a prevenção – uma abordagem mais humanizada, proativa e eficaz do que o simples "combate".
#### Fundamentação Médica
Do ponto de vista médico, o álcool é uma droga depressora do sistema nervoso central, cujo consumo crônico pode levar à dependência, cirrose hepática, cardiopatias e diversos tipos de câncer. A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica o álcool como uma das principais causas de morbidade e mortalidade global. Separá-lo das demais drogas é cientificamente incorreto e prejudica esforços de conscientização sobre os riscos.
#### Fundamentação Psicológica
Psicologicamente, o uso de qualquer substância psicoativa, seja lícita ou ilícita, pode alterar o equilíbrio emocional e cognitivo do indivíduo. O álcool, em particular, está frequentemente associado a comportamentos impulsivos, depressão e ansiedade. Ao tratar o álcool como uma droga, podemos desenvolver políticas públicas mais integradas, que abordem tanto a prevenção quanto o tratamento de transtornos relacionados ao uso de substâncias.
#### Fundamentação Teológica
Muitas tradições religiosas condenam o uso excessivo de substâncias que alteram a consciência, pois isso pode comprometer a capacidade do ser humano de viver em harmonia consigo mesmo, com os outros e com o divino. A Bíblia, por exemplo, adverte contra a embriaguez em passagens como Provérbios 23:29-35. Ao incluir o álcool na definição de drogas, respeitamos princípios éticos e espirituais universais que valorizam a integridade física e mental.
#### Fundamentação Linguística e Comunicativa
A escolha das palavras importa. O termo "combate" sugere uma guerra, uma luta sem fim, enquanto "prevenção" implica cuidado, educação e responsabilidade. Além disso, ao falar em "drogas" sem distinções artificiais, eliminamos preconceitos e promovemos uma compreensão mais inclusiva dos problemas relacionados ao uso de substâncias.
### Por Que Isso Importa?
A mudança proposta não é meramente semântica; ela tem o potencial de transformar políticas públicas, atitudes sociais e estratégias de saúde. Um nome que une álcool e outras drogas sob o mesmo guarda-chuva reconhece que todos esses produtos compartilham riscos semelhantes e exigem abordagens coordenadas. Mais do que isso, ela desafia a narrativa fabricada pela indústria do álcool, colocando a saúde e o bem-estar da população acima dos interesses econômicos.
### Conclusão
É hora de darmos um passo adiante na luta contra o uso prejudicial de substâncias. Que algum(a) parlamentar tenha a coragem e a visão de propor essa mudança legislativa, alinhando nosso calendário oficial à ciência, à ética e à realidade. Que o Brasil deixe de lado o nome ultrapassado e contraditório de Dia Nacional de Combate às Drogas e Alcoolismo e adote o Dia Nacional de Prevenção às Drogas – uma data que reflete verdade, integração e esperança. Afinal, só quando enfrentarmos o problema em sua totalidade poderemos construir uma sociedade mais saudável, justa e consciente.
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