Tocando Agora: ...

O Agronegócio e a Agroecologia: Reflexão Bíblica

Publicada em: 03/03/2025 06:19 - Geral

Ao analisarmos os ensinamentos da Bíblia Sagrada, podemos discernir com clareza que o modelo de produção agrícola baseado no agronegócio está em descompasso com os princípios divinos, enquanto a agroecologia reflete mais profundamente a harmonia, justiça e sustentabilidade preconizadas por Deus.

### 1. A Criação e o Propósito Divino

No início, Deus criou o mundo e tudo nele contido, declarando que era "muito bom" (Gênesis 1:31). Ele estabeleceu um equilíbrio perfeito entre todos os seres vivos e os recursos naturais. O homem foi colocado no Jardim do Éden não para explorar ou dominar de forma predatória, mas para "cultivá-lo e guardá-lo" (Gênesis 2:15). Essa ordem divina implica responsabilidade, cuidado e respeito pela criação, valores que são completamente ignorados pelo modelo do agronegócio.

O agronegócio, como conhecemos hoje, é caracterizado por práticas que priorizam a maximização do lucro, muitas vezes à custa da degradação ambiental, exploração humana e violação dos direitos dos animais. Grandes monocultivos, uso excessivo de agrotóxicos, desmatamento e concentração de terras são marcas desse sistema. Tais práticas estão em conflito direto com o mandato divino de cuidar da terra, pois promovem a ganância (um pecado condenado em textos como Colossenses 3:5) e destroem aquilo que Deus criou com amor.

Por outro lado, a agroecologia se alinha com o propósito original de Deus. Ela busca trabalhar em sintonia com os ciclos naturais, valorizando a biodiversidade, preservando o solo e as águas, e promovendo relações justas entre produtores e consumidores. A agroecologia entende a terra não como mercadoria, mas como dom sagrado, digno de reverência e proteção – exatamente como Deus pretendia.

### 2. O Pecado da Ganância e a Idolatria do Lucro

Jesus nos alerta sobre os perigos da ganância em Lucas 12:15: "Tomai cuidado e guardai-vos de toda espécie de ganância; porque a vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui." O agronegócio, em sua essência, é movido pela lógica capitalista de acumulação ilimitada. Empresas multinacionais controlam sementes transgênicas, fertilizantes e pesticidas, impondo aos agricultores um ciclo vicioso de dependência e dívidas. Isso fomenta desigualdades sociais e econômicas, contrariando o princípio bíblico de justiça social presente em passagens como Amós 5:24: "Role a justiça como as águas, e a retidão como um ribeiro perene."

Além disso, o agronegócio frequentemente sacrifica comunidades tradicionais, povos indígenas e pequenos agricultores em nome do progresso econômico. Esse tipo de opressão vai contra o chamado de Deus para amar ao próximo como a si mesmo (Levítico 19:18). Ao invés de servir ao próximo, o agronegócio serve ao deus deste século, Mamom, mencionado por Jesus em Mateus 6:24: "Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar a um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas."

A agroecologia, por sua vez, rejeita essa idolatria do lucro. Ela prioriza a solidariedade, a partilha de saberes e a soberania alimentar. Em vez de concentrar poder e recursos nas mãos de poucos, ela empodera comunidades locais, permitindo que elas produzam alimentos saudáveis e nutritivos sem comprometer o futuro das próximas gerações. Essa abordagem reflete o coração de Deus, que sempre esteve ao lado dos pobres e marginalizados (Salmo 140:12).

### 3. A Lei do Descanso da Terra e a Sabedoria Ecológica

Deus instituiu o descanso sabático não apenas para o ser humano, mas também para a terra. Em Levítico 25:4, Ele ordena: "Seis anos semearás a tua terra e recolherás os seus frutos, mas no sétimo ano haverá para ela um descanso solene, um sábado ao Senhor; não semearás o teu campo, nem podarás a tua vinha." Essa prática demonstra respeito pelos limites naturais da terra e reconhece que ela pertence a Deus, não ao homem (Levítico 25:23).

O agronegócio ignora essa sabedoria ancestral, forçando a terra a produzir continuamente, sem dar-lhe tempo para se regenerar. O resultado é erosão do solo, desertificação e contaminação de lençóis freáticos. Essas consequências negativas revelam uma mentalidade arrogante que tenta substituir a sabedoria divina pela tecnologia humana.

Já a agroecologia resgata essa conexão sagrada com a terra, adotando práticas como rotação de culturas, compostagem e manejo integrado de pragas. Ela reconhece que a natureza tem ritmos próprios e que devemos aprender a dançar conforme sua música, em vez de tentar dominá-la. Essa postura humilde ecoa o Salmo 24:1: "Do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam."

### 4. A Nova Criação e a Esperança de Restauração

Apocalipse 21:5 nos traz uma promessa gloriosa: "Eis que faço novas todas as coisas." Deus não abandonará Sua criação; Ele planeja restaurá-la completamente. Enquanto isso, somos chamados a ser agentes dessa restauração aqui e agora. A agroecologia é uma expressão prática dessa vocação, pois busca curar as feridas causadas pelo pecado humano – incluindo a exploração predatória da terra.

O agronegócio, por outro lado, perpetua o ciclo de destruição e injustiça, afastando-nos ainda mais da visão divina de paz e harmonia. Ele é fruto de uma mentalidade caída, que enxerga a criação como algo a ser explorado, e não como um presente a ser honrado.

### Conclusão

Com base na Palavra de Deus, fica evidente que o agronegócio representa uma ruptura com os princípios divinos de cuidado, justiça e sustentabilidade. Suas práticas refletem os valores deste mundo corrompido, guiados pela ganância e pela idolatria. Por outro lado, a agroecologia encarna a sabedoria eterna de Deus, promovendo um relacionamento respeitoso com a criação e uma convivência harmoniosa entre humanos e natureza.

Que possamos, como discípulos de Cristo, escolher caminhos que glorifiquem ao Criador e testemunhem Seu amor pela Sua obra-prima: a Terra e todos os seus habitantes.

"Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos." (Mateus 5:6)

Compartilhe:
Comentário enviado com sucesso!
Carregando...