Tocando Agora: ...

A Canção da Terra Sem Voz (por Tácito Loureiro)

Publicada em: 29/03/2025 10:35 - Geral

O Paraguai, um país marcado pela resistência silenciosa. Após a Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870), que dizimou 90% da população masculina e deixou cicatrizes profundas na identidade nacional, o povo paraguaio carrega uma história de luta e resiliência, mas também uma autoestima abalada por séculos de invisibilidade global. 

Araí, uma jovem de 17 anos, é descendente direta dos sobreviventes da Guerra da Tríplice Aliança. Ela vive em uma comunidade rural em Itá Letra (local de inscrições rupestres guarani), onde a terra árida e as histórias ancestrais são sua única riqueza. Araí tem um dom: toca o arpa paraguaya com uma emoção que faz até as pedras chorarem. Porém, desde criança, sofre de uma condição rara: perdeu a voz física após um trauma. Sua música é sua única forma de expressão. 

Uma empresa multinacional chega para explorar o Aquífero Guarani, ameaçando secar a única fonte de água da comunidade. Os líderes locais se curvam ao dinheiro, mas Araí, em silêncio, sente a terra gritar através de suas raízes guarani. 

Araí encontra Karaí, um velho escultor de harpas que guarda a lenda de "Ñe’ẽ" (a "palavra-alma" em guarani). Ele revela que, durante a guerra, as mulheres paraguaias salvaram a cultura esculpindo harpas com madeira de árvores sagradas, transformando a dor em música. "Sua voz não está perdida", diz ele. "Está enterrada na terra que você pisoteia." 

A empresa inicia a escavação, destruindo sítios sagrados. 

Araí duvida do próprio poder para liderar, pois sua mudez a faz sentir insignificante. 

Seu irmão, Tupã, trabalha para a empresa, dividido entre o progresso e a tradição. 

Em um ritual clandestino, Araí enterra sua harpa na nascente do aquífero. Na manhã seguinte, a harpa brota como uma árvore, com raízes que emitem sons ancestrais. A comunidade a vê como um sinal, mas a empresa acelera a destruição. 

Araí descobre cartas das antepassadas, mostrando como as mulheres reconstruíram o Paraguai em segredo, ensinando música e guarani nas ruínas. Ela entende: sua voz nunca foi física; é coletiva, ancestral. 

No dia da escavação final, Araí lidera a comunidade em uma rebelião sonora. Centenas tocam harpas feitas de madeira sagrada, invocando "Ñe’ẽ". O som ressoa no aquífero, fazendo a terra tremer e expulsando as máquinas. Tupã, tocado pela música, sabota o equipamento. 

A empresa recua, e a comunidade cria o "Festival da Voz da Terra", atraindo o mundo para ouvir a cultura paraguaia. Araí, ainda muda, torna-se embaixadora da UNESCO, mostrando que a verdadeira voz não precisa de palavras. 

Araí ensina crianças a tocarem harpa sob a árvore que nasceu de seu instrumento. A câmera mostra as inscrições de Itá Letra brilhando, como se as pedras estivessem cantando.  

Compartilhe:
Comentário enviado com sucesso!
Carregando...