A retomada dos debates sobre o
PNE (Plano Nacional de Educação) já sinaliza que o País volta a colocar as
escolas, alunos e professores no centro das políticas públicas. A
defesa da educação pública universal e gratuita e valorização dos
trabalhadores em educação foram discutidos na audiência pública que debateu, na
tarde desta quarta-feira (23), o Projeto de Lei 2.614/2024, de autoria do
Executivo Federal, que propõe o Plano Nacional de Educação para o próximo
decênio (2024-2034). Proposto pelo deputado Pedro Kemp (PT) e pela deputada
Gleice Jane (PT) em parceria com a Federação dos Trabalhadores em Educação de
Mato Grosso do Sul (Fetems), o evento foi o pontapé inicial para as discussões
no Estado e reuniu educadores, que lotaram o plenário e o saguão da Assembleia
Legislativa (ALEMS). A audiência iniciou com a apresentação da orquestra
infantil do projeto “Fábrica de Som”, do Instituto Misericordes Pater, do
Lageado.
“É muito importante que o debate sobre o Plano
Nacional de Educação tenha participação da sociedade, principalmente de quem
está no chão da escola, os professores, os servidores administrativos e os pais
e alunos”, afirmou o deputado Pedro Kemp em referência à importância da
audiência pública. “A aprovação do Plano Nacional de Educação vai apontar para
nós, aqui no Estado também, as diretrizes para a gente depois discutir o Plano
Estadual de Educação”.
O parlamentar também afirmou
que o novo PNE precisa contemplar a defesa da escola pública, melhores
condições de trabalho aos educadores e qualidade da educação. “Hoje está
havendo uma ampliação grande das escolas de tempo integral. Então, como
discutir um projeto para essas escolas que, de fato, contribua para a melhoria
da qualidade de ensino? O enfoque muito importante desse projeto do Plano de
Educação é a qualidade da educação”, disse. “A valorização dos profissionais da
educação também é um tema central, com a necessidade de melhores condições de
trabalho e discussão sobre a qualidade do ensino nas escolas, especialmente nas
de tempo integral”, completou o parlamentar.
O presidente da FETEMS,
professor Jaime Teixeira defendeu a equiparação salarial dos professores,
concurso público e salientou a importância do PNE para dar um rumo definitivo
para a recuperação da educação pública, sucateada no Governo Bolsonaro.
Teixeira pontou a importância do Brasil ter um Sistema Único de Educação para
que assim como a França, haja uma consolidação dos direitos dos professores e
assim, a escola ocupe um papel de destaque
na sociedade e construção do Brasil.
“As audiências públicas e
conferências são destacadas como espaços importantes para discutir e construir
o Plano Nacional, Estadual e Municipal de Educação, garantindo que as vozes da
comunidade sejam ouvidas antes da aprovação do texto final pelas casas
legislativas”, ressaltou a deputada Gleice Jane enfatizando que o debate sobre
o novo PNE deve ser feito com participação da sociedade, como colegiados,
associações de pais e mestres, grêmios estudantis e sindicatos.
A deputada também falou sobre
os riscos da terceirização, que precisa ser combatida na implementação dos
planos nacional, estadual e municipais. “Entre os grandes desafios que temos
pela frente, há a terceirização, que vem com toda força. Aqui em Mato Grosso do
Sul, de forma muito silenciosa, a terceirização já está em todas as escolas
estaduais e em vários municípios”, alertou. “Isso é uma transferência da
responsabilidade do Estado para as empresas. Com o processo de terceirização, a
desvalorização profissional é muito maior. Isso pode destruir as conquistas que
tivemos nas últimas décadas”, pontuou a deputada.
Educação
pública, gratuita e de qualidade
“Precisamos travar uma luta cotidiana dentro
das universidades, escolas, sindicatos, em todos os espaços possíveis, para
que, ao final do decênio, tenhamos uma educação pública, gratuita e de
qualidade para todos e para todas”, afirmou a professora Dra. Andréia Nunes
Militão, que proferiu a palestra “Plano Nacional de Educação: o que está
contido no PL 2.614/2024”. Andréia é doutora em Educação, professora da
Universidade Estadual de Mato Grosso Do Sul (Uems) e do Programa de
Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD).
A professora destacou que o
processo de construção do novo Plano ocorre em meio a um embate sobre
diferentes projetos de educação para o País. “Nós queremos uma educação
pautada na inclusão e diversidade para todos e todas ou uma educação privatizada?
Qual projeto iremos defender?”, questionou. Ela acrescentou que, nessa disputa,
é primordial assegurar financiamento e a valorização da educação pública. “E
temos no Congresso Nacional, uma bancada numerosa que prima pela redução de
recursos para a educação”, alertou.
Outro ponto enfatizado pela
educadora é o papel da Conferência Nacional de Educação (Conae). “Nós temos um
ativo político muito potente, que é o documento final da Conae, que foi
debatido por mais de um ano, sobretudo pelos trabalhadores e trabalhadoras da
educação”, afirmou [confira aqui informações sobre a Conae 2024]. “E
este é um grande desafio: incorporar as contribuições da sociedade civil que
estão no documento da Conae”, completou.
Andréia Militão também disse
ser importante assegurar no novo Plano a valorização de todos os trabalhadores
da educação, incluindo-se os profissionais do administrativo das escolas.
“Precisamos lutar por um piso salarial nacional para os profissionais da
educação. Também é importante a formação específica inicial e continuada de
professores para educação indígena e quilombola”, enfatizou.
Além da busca da garantia
dessa valorização dos trabalhadores em educação no novo Plano, também é preciso
implementar em níveis estadual e municipal as disposições da Lei Federal
14.817/2024, conforme defendeu a professora Andréia. A Lei 14.817/2024
estabelece diretrizes para a valorização dos profissionais da educação escolar
básica pública.
“A Lei 14817/2024 traz três elementos
importantes para a valorização dos trabalhadores de educação”, disse Andréia
Militão. Os pontos, segundo informou a educadora, são os seguintes: Construção
de Planos de Cargos, Carreiras e Salários; formação continuidade; e
melhores condições de trabalho.
Novo
PNE
Em 2024, o Governo Federal,
por meio do Ministério de Educação (MEC), enviou para o Congresso Nacional o
Projeto de Lei 2.614/2024. O processo de elaboração da proposta aconteceu com
participação social, contando com contribuições apresentadas pela Conae em
janeiro de 2024, além de colaborações de entidades representativas da sociedade
civil.
Crianças
do projeto "Fábrica do Som" tocaram no início da audiência
A proposta contém 18
objetivos, 58 metas e 253 estratégias que União, estados e municípios devem
cumprir na educação básica (desde a educação infantil até os ensinos
fundamental e médio), na educação profissional e tecnológica e no ensino
superior. O plano define metas, por exemplo, para alfabetização, educação
integral, diversidade e inclusão e estrutura e funcionamento das escolas.
Audiência
pública
A audiência contou com a forte
presença de educadores. Participaram do evento o coordenador do Fórum Estadual
de Educação de Mato Grosso do Sul, Onivan de Lima Correa. A audiência teve a
cobertura da Comunicação da ALEMS e foi transmitida ao vivo.
Veja aqui como foi a audiência publica
https://www.youtube.com/watch?v=TfNTEBzZRyE&t=1s
Por Osvaldo Júnior e Jacqueline Lopes