O Silêncio das Mães no Dia das Mães (Por Liliana Medeiros)
Publicada em: 10/05/2025 07:45 - Geral
No segundo domingo de maio, o Brasil se pinta de rosa, vitrines reluzem com perfumes e eletrodomésticos, redes sociais se enchem de flores e mensagens emotivas. É o Dia das Mães. Mas enquanto a propaganda canta a maternidade perfeita, silenciam-se as vozes daquelas que vivem um luto não declarado, uma ausência que não se mede em distâncias, mas em dores profundas e cotidianas.
Pouco se fala das mães que enfrentam a maternidade sozinhas, abandonadas por parceiros que não entenderam — ou não quiseram entender — o peso da responsabilidade de criar um ser humano. Mães solos que lutam contra o relógio e contra o cansaço, que acumulam jornadas invisíveis e ainda assim, por dentro, às vezes, se sentem culpadas por não conseguirem ser as "mães ideais" da propaganda.
Pouco se mostra, também, das mães que perderam seus filhos não para a morte física, mas para as drogas, para as ruas, para o cárcere. Mães que dormem e acordam com o celular ao lado, na esperança de uma ligação. Qualquer ligação. Elas não ganham café da manhã na cama nesse domingo. Elas mal conseguem dormir.
Existem também as mães viúvas, que precisaram se reinventar em dobro. Que além de perderem seus companheiros de vida, precisaram se tornar fortaleza para os filhos — e, muitas vezes, se tornaram invisíveis para os próprios. O luto delas não tem data certa para passar.
E há ainda aquelas que foram deixadas para trás. Filhos que cortaram laços, não por brigas, mas por pressões externas. Relacionamentos abusivos com noras ou genros que colocaram mães como inimigas, concorrentes ou “problemas a serem evitados”. É uma forma sutil de abandono — cruel justamente porque é silenciosa, socialmente aceita e até incentivada sob o disfarce da autonomia familiar.
Ao redor do mundo, o Dia das Mães também é manchado de sangue e pólvora. Mães palestinas, ucranianas, sudanesas, israelenses e tantas outras choram filhos que se tornaram estatísticas em conflitos que não começaram, mas que terminam em seus colos vazios. Elas não querem presentes. Elas querem paz.
Enquanto o comércio insiste em dizer que mãe é "tudo igual", que toda mãe quer ganhar um liquidificador novo, ignoramos que muitas mães não querem presente algum. Querem apenas presença. Atenção. Respeito. Um abraço que diga: “Eu vejo você”.
Esse texto não é contra o Dia das Mães. É a favor da verdade. Da vida como ela é — e não como o marketing quer que pareça. É um chamado à consciência: o amor por uma mãe não pode ser terceirizado ao comércio. Não se mede por likes ou caixas de presente, mas pelo cuidado genuíno, pela escuta, pela reciprocidade.
É preciso relembrar que o Dia das Mães, para muitas mulheres, é um dia de saudade, de abandono, de ausência, de luto. E ainda assim, muitas delas continuam amando com uma força que só a maternidade — e a dor — conseguem forjar.
Que esse texto seja um grito de alerta. Para que os filhos não esqueçam, não adiem, não desprezem. Que saibam que a ausência deles pode ser mais letal que qualquer doença. E que mãe não é um papel, nem um perfil a ser homenageado uma vez por ano — é uma história viva, pulsante, que merece respeito diário.
Neste Dia das Mães, flores são bem-vindas. Mas mais do que flores, ofereça presença. Mais do que presentes, ofereça amor. Verdadeiro. Constante. Presente nos dias bons e, principalmente, nos dias difíceis.
Porque mãe que é mãe ama todos os dias. E tudo o que ela quer — no fundo — é ser amada de volta.
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