Tocando Agora: ...

Quando o Silêncio Floresce (por Tácito Loureiro)

Publicada em: 30/05/2025 08:05 - Artigos

Mariana vivia no centro do barulho. Não apenas o dos carros e das vozes na rua, mas o ruído constante dentro dela: uma torrente de pensamentos sobre o passado que doía, o futuro que assustava, e o presente que escapava por entre os dedos como areia. Até que um dia, esgotada, sentou-se no chão frio da varanda, fechou os olhos e decidiu não fazer nada. Apenas respirar.  

No início, foi um caos. As preocupações gritavam mais alto, os julgamentos martelavam, a impaciência coçava suas pernas. Mas ela persistiu, dia após dia, como quem rega uma semente no escuro, sem saber se brotaria. Até que, numa manhã de chuva fina, algo mudou. Entre um pensamento e outro, surgiu um espaço. Breve, límpido, silencioso. Como o instante entre duas ondas no mar, quando a areia brilha molhada e tudo parece parar.  

Foi ali que Mariana compreendeu: meditação não era fugir do mundo, nem esvaziar a mente à força. Era reconhecer o oceano inteiro — as ondas altas da raiva, as correntes frias do medo, os reflexos dourados da alegria — e, ainda assim, encontrar o fundo. Aquele lugar calmo e imóvel que sustentava tudo, mas não se agitava com nada. Era como descobrir raízes profundas dentro de si, que seguram a árvore quando o vento sopra forte.  

Aos poucos, o silêncio deixou de ser vazio para ser morada. Quando os problemas batiam à porta, Mariana não se perdia mais no redemoinho. Respirava. Sentia o chão sob os pés. E dali, daquele centro intacto, enxergava com clareza: as emoções eram visitantes, não donas da casa; os pensamentos, nuvens passageiras, não o céu.  

A meditação, ela percebeu, não a tornou imune à vida. Apenas lhe deu um território sagrado dentro do caos. Um lugar onde podia lembrar quem era antes do mundo dizer quem devia ser. Um refúgio que não estava em nenhum mapa, mas sempre esteve ali, sob o turbilhão da mente — esperando apenas que ela parasse por tempo suficiente para que o silêncio, enfim, florescesse.  

E quando florescia, tudo mudava. Porque no centro da quietude, até o barulho do mundo se tornava parte da música.

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