Equilibrando a Luz: Otimismo e a Verdade da Solidão na Maturidade (por Liliana Medeiros)
Publicada em: 05/06/2025 07:42 - Artigos
Há solidões que chegam sem aviso, e há as que se anunciam devagar — como quando os filhos criam asas e a casa, antes cheia de risos e bagunça, vira um eco de memórias. Ou quando o parceiro de décadas se vai, seja por partida ou partida, e o sofá de dois lugares de repente sobra. Essa solidão tem um sabor diferente: não é a do jovem à procura de si, mas a de quem já construiu mundos e vê o terreno mudar sob seus pés.
Já me ofereceram frases feitas: "Agora você está livre!", "É hora de curtir a vida!". Mas sei que otimismo de verdade não apaga a dor com brilho. Aquele quarto vazio que era do meu filho? O silêncio que era preenchido pela respiração do meu amor? Isso não vira "oportunidade" num estalar de dedos.
Então, como acolher essa nova paisagem sem trair o que sinto?
Aprendi que é possível honrar o luto e semear futuro ao mesmo tempo.
Quando o vazio da casa espelha o vazio que às vezes sinto, permito-me:
— Chorar os cantos que se calaram. Não como fraqueza, mas como reverência ao amor que ali viveu;
— Perguntar-me, sem pressa: "Quem sou eu quando ninguém precisa de mim como mãe, pai, parceiro(a)?";
— Reconhecer que alguns dias a solidão será uma casa com paredes a menos — e está tudo bem não "consertá-la" hoje.
Mas também descubro, nas frestas:
🌱 Novas raízes crescendo onde havia apenas rotina: o tempo que era dos outros agora me devolve a mim mesma. Reencontro livros esquecidos, sonhos adiados, até um novo jeito de dançar sozinha na cozinha;
🌱 A liberdade de ser inteiro, não só fragmento de alguém: posso escolher o jantar, viajar sem planos, calar ou cantar — sem precisar negociar;
🌱 A surpresa de reaprender a conviver... comigo. Após anos cuidando de outros, redescubro minhas manhãs silenciosas como um ritual sagrado.
Não se trata de "substituir" quem partiu, mas de expandir quem fica.
O otimismo aqui é um ato de coragem:
— Se hoje sinto falta do barulho dos netos que ainda não chegam, aceito a saudade;
— Se amanhã o silêncio me trouxer uma paz desconhecida, celebro;
— E se a solidão pesar, busco outras almas que também navegam seus outonos — não por desespero, mas por escolha.
Porque a maturidade, com suas perdas e vazios, também revela:
Há uma beleza intocada em reconstruir-se — tijolo por tijolo — sobre o terreno fértil do que já foi amor.
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