Governo Bolsonaro (2019–2022): Desmonte da Valorização Real
Durante o governo Bolsonaro, a política de valorização real do salário mínimo (reajuste acima da inflação) foi abandonada. O reajuste limitou-se à reposição do INPC, resultando em perda real de 1,2% no período. Em 2022, o salário mínimo foi fixado em R$ 1.212, sem ganhos substantivos desde 2019 . Além disso, o governo subestimou a inflação em suas projeções orçamentárias, como em 2022, quando a correção de 10,02% ficou abaixo da inflação efetiva de 10,16%, corroendo ainda mais o poder de compra.
Governo Lula (2023–presente): Retomada Estrutural
Lula reinstituiu imediatamente a política de valorização real, combinando INPC e crescimento do PIB. Em 2023, o mínimo saltou de R$ 1.212 para R$ 1.320 (ganho real de 6,1%). Em 2025, chegou a R$ 1.518 (aumento real de 7,5% sobre 2024), com projeção de R$ 1.630 em 2026. Essa política, consolidada na Lei nº 14.663/23, vinculou o mínimo ao desempenho macroeconômico, assegurando ganhos cumulativos. Entre 2003 e 2010, os governos Lula já haviam elevado o mínimo em 62,4% acima da inflação.
Poder de Compra: A Desigualdade na Prática.
Queda Brutal sob Bolsonaro
O abandono da valorização real, somado à explosão dos preços dos alimentos (alta média de 8,24% ao ano), devastou o poder de compra. Entre 2019 e 2022:
- Cesta básica: perda de 26%;
- Feijão: queda de 41%;
- Arroz: queda de 24% .
Em 2022, o mínimo comprava apenas 1,6 cestas básicas, ante 2,2 em 2018.
Recuperação sob Lula
A combinação de reajustes reais e controle inflacionário revertveu a tendência:
- Alimentos: inflação média de 4,36% ao ano (metade da taxa bolsonarista);
- Cesta básica: ganho de 10,4% no poder de compra em 2023;
- Benefícios sociais: 59 milhões de brasileiros têm rendas atreladas ao mínimo, incluindo 19 milhões de aposentados.
Inflação: Choques Externos versus Gestão Estrutural
Bolsonaro: Vulnerabilidade e Descontrole
A inflação média anual foi de 6,17%, com picos de 14,09% em alimentos (2020) e 11,64% (2022). Fatores como pandemia, guerra na Ucrânia e quebras de safra agravaram o cenário, mas a ausência de políticas anticíclicas e a desindexação do mínimo amplificaram o custo de vida.
Lula: Estabilização com Equidade
A inflação média caiu para 4,72% (2023–2024), e os alimentos para 4,36%. Lula alcançou a menor inflação média de alimentos desde o Plano Real (5,87% em seus 10 anos de governo), superando FHC (6,71%) e Dilma (9,11%). Isso reflete:
- Ancoragem salarial: recomposição do mínimo como estabilizador de demanda;
- Políticas setoriais: coordenação com agricultura e estoques reguladores.
Percepção Pública versus Dados Objetivos:
O Paradoxo Datafolha
Pesquisas do Datafolha (junho/2025) revelam um contraste entre dados econômicos e percepção:
- 50% dos brasileiros consideram Lula pior que Bolsonaro no combate à inflação;
- 43% veem Lula como melhor na geração de empregos, e 42% na educação.
Essa distorção tem bases sociológicas:
- Viés de renda e escolaridade: entre quem ganha até 2 salários mínimos, 33% aprovam Lula na inflação (contra 29% da média geral). Entre os com ensino fundamental, o apoio chega a 40%;
- Efeito memória: a hiperinflação de alimentos em 2021–2022 (governo Bolsonaro) gerou trauma, enquanto a queda recente da inflação sob Lula ainda não foi internalizada pela classe média.
Impacto Sistêmico: Por que a Valorização do Mínimo é Estratégica
A defesa do modelo lulista não é ideológica, mas técnica:
- Redução da desigualdade: entre 1995 e 2015, o mínimo foi responsável por 60% da queda do Gini no Brasil. Seu reajuste real pressiona toda a estrutura salarial, reduzindo a dispersão de renda;
- Estímulo econômico: cada R$ 1 de aumento do mínimo injeta R$ 368,5 milhões/ano na economia, dinamizando o consumo popular;
- Custo fiscal administrável: o aumento para R$ 1.518 em 2025 impactará as contas públicas em R$ 14,7 bilhões, valor compensado pela maior arrecadação indireta e redução de gastos assistenciais.
Conclusão: Salário Mínimo como Projeto Nacional
A comparação entre os governos é cristalina: Bolsonaro desmontou mecanismos históricos de proteção social, gerando perdas reais no mínimo e inflação descontrolada. Lula restabeleceu o mínimo como eixo de desenvolvimento, combinando ganhos reais, controle inflacionário e redução da pobreza. O limite de 2,5% para o aumento real (Lei nº 15.077/2024) assegura sustentabilidade fiscal sem abandonar a lógica valorizadora.
A defesa desse modelo não é nostalgia, mas reconhecimento de que salários dignos são antídotos contra a recessão e a instabilidade. Como demonstram 20 anos de dados, onde o mínimo cresce, a economia prospera; onde ele estagna, a desigualdade se aprofunda. A agenda lulista, portanto, não é "gorda", mas necessária.
Fontes: Cecon/Unicamp, Datafolha, BBC, Brasil de Fato, Valor Econômico.