### PF cumpre mandados e impõe tornozeleira eletrônica a Bolsonaro
A Polícia Federal realizou buscas na residência do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em Brasília e na sede nacional do Partido Liberal nesta sexta-feira (18), por decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF. Bolsonaro compareceu à sede da PF para instalação de tornozeleira eletrônica, medida que monitorará seus movimentos às vésperas do julgamento da "trama golpista" – processo que pode condená-lo a mais de 40 anos de prisão por crimes como organização criminosa armada, golpe de Estado e tentativa de abolição violenta do Estado Democrático.
A operação ocorre após o ex-presidente ter seu passaporte retido desde fevereiro de 2024, quando a PF investigou seu envolvimento em reuniões com militares para discutir a anulação das eleições de 2022 . O novo monitoramento reforça o cerco judicial em um momento crítico: o STF deve iniciar o julgamento do núcleo central da suposta conspiração em setembro.
### Crise internacional amplia isolamento político
A medida do STF coincide com a escalada das tensões entre Brasil e Estados Unidos. Na semana passada, o presidente Donald Trump anunciou sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros, citando explicitamente o tratamento "horrível" dado a Bolsonaro pelo Judiciário brasileiro. Apesar disso, o ex-presidente minimizou sua capacidade de influência:
"Não tenho essa liberdade toda com Trump", declarou Bolsonaro, que atribuiu a crise comercial ao governo Lula. A fala contrasta com a atuação de seu filho, deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que desde março pressiona autoridades norte-americanas por sanções contra o STF.
Analistas apontam que a estratégia de internacionalizar o conflito falhou: Bolsonaro não conseguiu reaver seu passaporte nem evitar a tornozeleira, mesmo com o apoio declarado de Trump.
### Acusações podem somar 43 anos de prisão
A Procuradoria-Geral da República (PGR) formalizou em 14 de julho o pedido de condenação de Bolsonaro e sete aliados (incluindo generais e Mauro Cid) por cinco crimes vinculados à tentativa de golpe após as eleições de 2022. A PGR destacou que o ex-presidente foi o "principal articulador e maior beneficiário" de ações para desestabilizar a democracia, usando a máquina pública para disseminar notícias falsas e incitar violência.
Crimes imputados a Bolsonaro e penas máximas:
| Crime | Base legal | Pena máxima |
| Liderança de organização criminosa armada | Lei 12.850/2013 | 17 anos |
| Golpe de Estado | Art. 359-M, CP | 12 anos |
| Tentativa de abolição violenta do Estado Democrático | Art. 359-L, CP | 8 anos |
| Dano qualificado contra patrimônio público | Art. 163, CP | 6 anos |
| Deterioração de patrimônio tombado | Lei 9.605/1998 | 3 anos |
A soma das penas pode chegar a 46 anos, mas o tempo máximo de cumprimento no Brasil é de 40 anos – limite ampliado pelo "pacote anticrime" aprovado durante o próprio governo Bolsonaro.
### Saúde e prisão domiciliar: a estratégia da defesa
Apesar da gravidade das acusações, fontes próximas ao ex-presidente indicam que sua defesa não pedirá prisão domiciliar antes do julgamento. A decisão visa evitar que o gesto seja interpretado como "chancela da condenação", esvaziando narrativas de inocência. Bolsonaro, de 70 anos, enfrenta problemas de saúde crônicos decorrentes da facada sofrida em 2018 e recentes crises de esofagite – fatores que poderiam justificar o benefício.
Integrantes do governo Lula avaliam que o estado de saúde do ex-presidente será decisivo na dosimetria da pena, caso haja condenação. Nos bastidores de Brasília, acredita-se que o STF autorizará o cumprimento em casa se a sentença for superior a 8 anos.
### Bolsonarismo resiste, mas líder perde centralidade
Pesquisadores do Laboratório de Estudos Brasil Profundo (IFBA) destacam que, embora Bolsonaro enfraquecido, o movimento bolsonarista mantém força ao articular valores do "Brasil Profundo": simplismo, autoritarismo e antidecoro. Figuras como Pablo Marçal e governadores (ex.: Ronaldo Caiado) absorvem parte dessa base, desvinculando-a da imagem do ex-presidente.
"A condenação de Bolsonaro não sepultaria o bolsonarismo", afirmam os especialistas, ressaltando que a resiliência do movimento está enraizada em características históricas da sociedade brasileira. Para eles, o ex-presidente ainda pode tentar reverter sua inelegibilidade (válida até 2030), seguindo o caminho de Lula após a Lava Jato.
### Próximas etapas do processo no STF
Com a conclusão das alegações finais da PGR, o processo segue para:
1. Manifestação das defesas: Mauro Cid (delação premiada) tem 15 dias para se pronunciar, seguido por outros réus em prazo coletivo de 15 dias;
2. Voto do relator: Alexandre de Moraes elaborará seu parecer;
3. Julgamento na 1ª Turma: Cinco ministros (Moraes, Dino, Fux, Zanin e Cármen Lúcia) decidirão sobre condenações .
Enquanto isso, Bolsonaro segue inelegível e monitorado – símbolo da queda de um líder que, há quatro anos, comandava o Palácio do Planalto.