O Dia Mundial do Urbanismo nos convoca a refletir sobre a qualidade de vida, a resiliência ambiental e a justiça espacial das cidades. Em Dourados, Mato Grosso do Sul, essa reflexão ganha contornos concretos: uma cidade marcada por oportunidades de crescimento, mas também por desafios que colocam em risco a saúde pública, os ecossistemas locais e a coesão social. Ao contrário de uma tragédia ambiental e ecológica anunciada, é possível desenhar trajetórias de urbanismo que conjugam desenvolvimento, inclusão e sustentabilidade.
## Um diagnóstico aberto para ação
- Crescimento demográfico e ocupação do solo: áreas urbanas expansivas, moradias populares e loteamentos periféricos sem redes de infraestrutura adequadas podem gerar problemas de mobilidade, drenagem e saneamento.
- Mobilidade e acessibilidade: o transporte público eficiente, as redes de ciclovias e a conectividade entre bairros precisam de prioridades claras para reduzir a dependência de veículos individuais.
- Espaços públicos e qualidade urbana: praças, parques lineares, praças de convívio e áreas de sombra bem distribuídas melhoram a saúde mental, fortalecem o comércio local e promovem encontros comunitários.
- Ambiente e resiliência: a gestão de águas pluviais, a preservação de áreas de proteção ambiental, a recuperação de nascentes e a criação de biomas urbanos podem mitigar enchentes e degradar menos os cursos d’água.
- Economia criativa e infraestrutura de inovação: estimular atividades locais, conectando educação, empreendedorismo e tecnologia, para reduzir a desigualdade e fomentar empregos qualificados.
## Propostas concretas para Dourados
1. Planejamento urbano orientado por dados e participação popular
- Implementar um planejamento participativo com audiências públicas regulares, consultas on-line e metodologias de desenho urbano que capturem necessidades de diferentes bairros.
- Atualizar o plano diretor com metas claras de densificação responsável, uso do solo, reflorestamento e proteção de áreas de importância ambiental.
2. Rede de mobilidade integrada
- Construir corredores de transporte público de alta eficiência que conectem bairros periféricos a centros de empregos, com faixas exclusivas e pontos de alimentação de ônibus eficientes.
- Ampliar a malha de ciclovias conectando escolas, unidades de saúde e centros culturais, com projeto de segurança viária (redução de velocidade, proteção de pedestres, iluminação).
3. Gestão de águas e drenagem sustentável
- Reabilitar áreas de várzea e nascentes, criando corredores de água que funcionem como elementos de lazer e, ao mesmo tempo, mecanismos de contenção de enchentes.
- Implementar pavimento permeável em áreas críticas, jardins de chuva e sistemas de reservação de água da chuva para uso não-potável.
4. Espaços públicos de qualidade e inclusão
- Recuperar praças existentes, criar parques lineares ao longo de cursos d’água e incentivar usos multifuncionais (lazer, agricultura urbana, feira de produtores).
- Estimular habitação com mix de usos, que permita comércio, serviços e moradia no mesmo quarteirão, reduzindo deslocamentos curtos e valorizando a vida de bairro.
5. Ecologia urbana e biodiversidade
- Inserir árvores nativas, redes de sombra e jardins comunitários para melhorar microclima, reduzir efeitos de ilhas de calor e promover educação ambiental.
- Estabelecer corredores ecológicos que conectem áreas naturais remanescentes, favorecendo a fauna urbana e promovendo turismo sustentável.
6. Economia local e educação para o urbano
- Apoiar incubadoras de negócios locais, agroindústria urbana, artesanato e turismo cultural que valorizem a memória regional e a biodiversidade local.
- Fortalecer parcerias entre escolas, universidades e comunidades para projetos de mapeamento participativo, planejamento urbano e gestão de resíduos.
## Um caminho de dualidade: visão de futuro versus risco ambiental
Ao invés de temer uma tragédia ambiental, Dourados pode adotar uma visão de urbanismo regenerativo. O conceito é simples, mas poderoso: cada intervenção urbana deve regenerar o meio ambiente, melhorar a vida das pessoas e gerar valor a longo prazo. Isto implica:
- Reduzir vulnerabilidade a eventos climáticos extremos por meio de infraestrutura verde;
- Transformar áreas degradadas em espaços de uso público e produção local;
- Garantir acesso equitativo a serviços, empregos e oportunidades de educação;
- Integrar cultura, história e natureza na identidade da cidade.
## Considerações finais
O Dia Mundial do Urbanismo é uma oportunidade de ver Dourados não apenas como um espaço de consumo e deslocamento, mas como um organismo dinâmico de gente, direção e natureza. A cidade pode—e deve—avançar rumo a um urbanismo que seja inclusivo, resiliente e belo. Com planejamento participativo, investimentos estratégicos em mobilidade, água, espaços públicos e ecologia, Dourados tem potencial para transformar desafios em oportunidades, evitando tragédias ambientais e consolidando uma cidade onde as pessoas prosperam e a natureza floresce.
