- O território indígena há mais de 10 anos é identificado e
delimitado como terra Guarani Kaiowá pela Funai -
REPÓRTER BRASIL
Na madrugada deste domingo, dia 16 de novembro, um indígena Guarani Kaiowá, identificado como Vicente Fernandes, de 36 anos foi assassinado com um tiro na testa, por pistoleiros em Iguatemi. Os jagunços estavam com arma de fogo, calibre .12 e .38
Foi uma provável resposta a um ataque atribuído a pistoleiros contra a retomada (ocupação) Pyelito Kue. Pelo menos quatro outros indígenas da etnia Guarani Kaiowá ficaram feridos. A área integra a Terra Indígena (TI) Iguatemipeguá I, sobreposta à Fazenda Cachoeira e retomada pelos indígenas no dia três de novembro.
O ataque aconteceu entre 4h e 5h por cerca de 20 homens que já teriam chegado atirando, segundo lideranças ouvidas pela reportagem. Elas relatam que barracos de lona e pertences na retomada foram incendiados e destruídos por um trator. Ainda de acordo com os Guarani Kaiowá, pistoleiros teriam tentado levar o corpo de Vicente Vilhalva, mas foram impedidos pelos indígenas.
FOTO - ATY GUASSU
“Perdemos um guerreiro que sempre esteve na luta em defesa dos direitos dos povos indígenas, Vicente era um dos porta-vozes da comunidade. Não tivemos chance, os jagunços estavam com arma de fogo, calibre .12 e .38 e acertaram um dos nossos”, relata Xe Ryvy Rendy’i, um indígena da comunidade.
No dia quatro de novembro deste ano, pistoleiros cercaram a retomada, incendiaram barracos e dispararam com armas de fogo. Vicente Fernandes é a primeira vítima fatal do conflito.
A fazenda Cachoeira foi recentemente arrendada por duas empresas de produção e exportação de carne. Cerca de 120 famílias da aldeia Pyelito Kue vivem no local, em uma área de 97 hectares, traçada a partir de um acordo judicial de 2014, segundo o portal O Joio e o Trigo.
Demarcação e conflitos
O território indígena há mais de 10 anos é identificado e delimitado como terra Guarani Kaiowá pela Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas). Nos últimos anos, a comunidade tem sido palco de conflitos por demarcação de terra e retomadas dos povos originários.
Quatro pessoas foram atingidas por tiros e uma criança teve uma das mãos queimadas por um rojão. Ainda segundo o site O Joio e o Trigo, um boletim de ocorrência foi registrado na Delegacia da Polícia Federal de Naviraí (MS), onde foram entregues as balas recolhidas pelos indígenas. A comunidade pede para que suas terras sejam demarcadas quanto antes.
Uma ponte que dá acesso ao local teria sido interditada por fazendeiros da região, de acordo com os indígenas. O caminho alternativo é mais longo, é via Amambai (MS).
“A ponte está interditada. Parece que já estavam se organizando para atacar a comunidade. Porque nunca arrumaram a ponte. Só depois que fizemos a retomada, decidiram bloquear. Foi um crime bem organizado. Nenhum carro está passando por lá”, denuncia o líder indígena Xe Ryvy Rendy’i.
Apesar de as autoridades federais terem sido acionadas pelos indígenas assim que houve o ataque, a FNSP (Força Nacional de Segurança Pública) só chegou ao local às 9h, quatro horas depois de os tiros cessarem. Servidores da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) e da Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) também se dirigiram ao local no final da manhã deste domingo.
“Fomos cercados. Os pistoleiros não chegaram para conversar, já chegaram atirando. Não temos armas, não temos nenhuma chance de defesa. Recuamos e fomos até a aldeia, mas eles seguiram atirando fora da retomada, nas nossas casas. Queimaram tudo na retomada: os barracos, as panelas, as cadeiras”, conta uma das lideranças de Pyelito Kue, sob anonimato.

