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Espectro da Guerra: Tensão EUA-Irã e o Abismo da Terceira Guerra Mundial (por Liliana Medeiros)

Publicada em: 24/06/2025 09:44 - Mundo

Os tambores de guerra ecoam mais uma vez no Golfo Pérsico. A notícia de um ataque americano direto contra alvos no Irã – seja em resposta a uma provocação específica, uma ação preventiva ou uma escalada inesperada – não é apenas mais um capítulo na longa rivalidade entre Washington e Teerã. É um evento sísmico com o potencial catastrófico de desencadear uma reação em cadeia que poderia engolfar o mundo em um conflito de proporções inimagináveis: a temida Terceira Guerra Mundial.

A simples menção de um confronto militar direto entre EUA e Irã acende todos os alertas globais. Por quê?

1.  Teia de Alianças Complexas: o Irã não está isolado. Possui uma rede de aliados e grupos aliados ("proxy forces") altamente ativos em todo o Oriente Médio – desde o Hezbollah no Líbano, grupos no Iraque e Síria, até os Houthis no Iêmen. Um ataque significativo ao coração do Irã seria visto como um ataque a toda essa rede. A resposta dificilmente se limitaria ao Irã. Esperaríamos ataques de retaliação contra bases americanas na região, contra aliados próximos dos EUA (como Israel e Arábia Saudita), e possivelmente contra o transporte marítimo internacional no vital Estreito de Ormuz, gargalo do petróleo global. Israel, sentindo-se existencialmente ameaçado, poderia ver nisso uma oportunidade ou uma necessidade de agir decisivamente, ampliando o teatro de guerra.

2.  Fator Nuclear: o Irã está no limiar da capacidade nuclear. Um ataque americano maciço poderia ser interpretado em Teerã como um esforço para destruir seu programa nuclear, ou mesmo para uma mudança de regime. Isso poderia levar o Irã a acelerar desesperadamente sua busca por um artefato nuclear ou a transferir tecnologia para seus aliados, numa tentativa de dissuasão extrema. Por outro lado, Israel tem arsenal nuclear declarado. A entrada de armas nucleares – mesmo apenas a ameaça credível de seu uso – eleva o conflito a um patamar completamente diferente, onde o cálculo de risco se torna incalculável e o potencial de destruição, total.

3.  Incerteza e Escalada Descontrolada: a maior ameaça em qualquer conflito entre grandes potências é a "escalada descontrolada". Um ataque limitado pode gerar uma resposta desproporcional. Um erro de cálculo, a queda de um avião em território errado, um ciberataque catastrófico contra infraestrutura crítica, ou o envolvimento acidental de forças de outra potência (como a Rússia, que tem laços com o Irã, ou a China, com seus interesses energéticos) pode rapidamente transformar um conflito regional em um incêndio global. A desconfiança mútua e a necessidade de "salvar a face" dificultam a desescalada.

4.  Cenário Global Fraturado: o mundo atual não é o de 1945 ou 1914, mas está profundamente dividido e polarizado. Existem rivalidades estratégicas acirradas (EUA-China, NATO-Rússia), tensões econômicas globais e uma erosão das instituições multilaterais de paz. Neste contexto, um grande conflito no Oriente Médio poderia servir como faísca para acender outras frentes de tensão, exploradas por potências rivais para avançar seus próprios interesses em outros palcos, como a Ucrânia, o Sudeste Asiático ou mesmo o espaço cibernético.

Caminho do Abismo e Única Saída:

O perigo de uma Terceira Guerra Mundial não reside necessariamente em um plano premeditado, mas na combinação explosiva de: uma ação militar direta entre adversários intransigentes (EUA-Irã), o envolvimento quase inevitável de múltiplos atores regionais com agendas próprias, a existência de arsenais capazes de destruição massiva (convencionais e potencialmente nucleares), e um ambiente internacional onde os freios à escalada (diplomacia, confiança, instituições fortes) estão enfraquecidos.

Diante deste precipício, a única saída racional, por mais difícil que pareça, é a via diplomática. É imperativo que:

Linhas de comunicação diretas sejam mantidas ou estabelecidas urgentemente entre Washington e Teerã, mesmo no calor do conflito, para evitar mal-entendidos fatais.
Potências neutras e organizações internacionais (ONU, por exemplo) atuem com máxima urgência e vigor para mediar um cessar-fogo e abrir canais de negociação.
Todos os envolvidos regionais e globais exerçam extrema moderação, reconhecendo que a espiral de violência beneficia apenas os extremistas e aniquila qualquer perspectiva de estabilidade futura.

Um ataque dos EUA ao Irã não é "apenas mais uma guerra no Oriente Médio". É um salto potencial em direção a um abismo do qual a humanidade pode não conseguir retornar. O fantasma da Terceira Guerra Mundial, há muito adormecido, assombra novamente o planeta. Evitá-la exige sabedoria, coragem para a paz e um esforço diplomático colossal, imediato e inabalável. O preço do fracasso é simplesmente alto demais para ser calculado.

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