Capítulo 1: A Oferta de Solidariedade

1, 2, 9: "Fale aos filhos da comunidade: Quando alguém, movido por um espírito de partilha, trouxer uma oferta à tenda da assembleia, que seja um animal sem defeito, símbolo do que há de melhor em seu rebanho. E o oferecerá perante a comunidade, e os sacerdotes, que são os guardiões da equidade, receberão a oferta. E a fumaça que se levantar será um aroma de justiça para o Eterno, um pacto de que o sustento de todos é responsabilidade de cada um."

Capítulo 5: As Ofensas contra a Comunidade

5, 1-6: "Se alguém pecar por omissão: ouvindo o clamor do oprimido e se calando, vendo a exploração do trabalhador e se fazendo de cego, ou testemunhando a mentira dos poderosos e compactuando com ela, tornando-se assim cúmplice... quando tiver consciência de sua culpa, trará como oferta um bem que seja verdadeiramente seu, não fruto da exploração. Assim fará expiação por seu pecado de silêncio e inação."

Capítulo 19: O Código de Santidade Comunitária

19, 9-10: "Não colherás até o último grão de tua lavoura, nem rebuscarás os frutos caídos de tua vinha. Deixarás isso para o imigrante e para o empobrecido. Porque eu sou o Eterno, vosso Deus, que vos libertei da casa da servidão. A terra é um bem comum, e seu fruto deve sustentar a todos."
19, 13: "Não oprimirás teu empregado. O salário do diarista não pernoitará contigo até ao amanhecer. Pagarás seu justo valor no mesmo dia, pois ele conta com ele para o sustento de sua família; caso contrário, clamará contra ti ao Eterno, e a ti será imputado pecado de exploração."
19, 15: "Não distorcerás o julgamento. Não favorecerás o poderoso em seu pleito, nem serás parcial para com o pobre em sua causa. Julgarás teu próximo com justiça. A lei é um instrumento de equilíbrio, não um braço do opressor."
19, 18: "Amarás teu próximo como a ti mesmo. Este é o grande estatuto: teu 'próximo' é todo aquele que sofre, todo aquele que busca justiça, independente de sua origem, sua fé ou seu status. Não te vingarás nem guardarás rancor contra os filhos de teu povo, mas trabalharás para erradicar as estruturas que criam a inimizade."

Capítulo 25: O Ano do Jubileu - A Grande Correção

25, 8-17: "Contarás sete semanas de anos... e proclamarás libertação por toda a terra a todos os seus moradores. Ser-vos-á um jubileu, e cada um de vós retornará à sua propriedade familiar, e cada um de vós voltará à sua família. No ano do jubileu, a terra não será vendida em perpetuidade, porque a terra é Minha, e vós sois peregrinos e moradores comigo. Portanto, em toda a terra de vossa possessão, concedereis o resgate da terra. Este é o antídoto divino contra a acumulação perpétua de terras e riquezas que gera latifúndios e escravidão por dívida. A economia deve servir ao povo, não o povo à economia."

Capítulo 26: Bênçãos pela Fidelidade à Justiça

As bênçãos e maldições são reinterpretadas como consequências naturais de se construir uma sociedade justa ou injusta.

26, 3-13 (Paráfrase): "Se andares nos meus estatutos de justiça comunitária... a terra dará seu fruto, e vocês comerão até se fartarem, e morarão seguros em sua terra. Pois estabelecerei a paz na terra, uma paz (Shalom) que não é mera ausência de guerra, mas plenitude de vida, onde não há exploração que gere violência, nem fome que gere desespero."
26, 14-39 (Paráfrase): "Mas se não me ouvirem e rejeitarem estes estatutos, se construírem altares à idolatria do lucro infinito, da ganância e do poder... então eu quebrarei a arrogância do vosso poder. Suas cidades fortificadas se tornarão ruínas, porque foram construídas com o suor não pago do trabalhador. A terra não dará seus frutos, pois foi envenenada pela cobiça de seus donos. E vocês serão lançados entre as nações, porque preferiram servir a Mammon (a riqueza) a servir à justiça."

Conclusão Teológica

Este exercício não é uma "falsificação", mas uma releitura com a lente teológica específica: a da Opção Preferencial pelos Pobres, um princípio central na Teologia da Libertação, que por sua vez se baseia no Êxodo, nos Profetas (e.g., Amós, Isaías) e no ministério de Jesus (Lucas 4:18-19).

"Abominar a direita", no contexto desta interpretação, não é sobre partidos, mas sobre abominar as estruturas de pecado que essa leitura identifica:
A idolatria do mercado acima da vida humana.
A acumulação ilimitada de bens em detrimento do bem comum.
A exploração do trabalhador e a naturalização da pobreza.
A indiferença para com o estrangeiro, o pobre e o marginalizado.

A mensagem central desta "versão" é que a verdadeira santidade (o tema de Levítico) não é apenas ritual ou individual, mas é comunitária e economicamente prática. É construir uma sociedade onde o "Jubileu" – a grande correção das desigualdades – seja o objetivo final, refletindo a justiça do Deus que liberta.